
No Dia Internacional contra a Homofobia, celebrado em 17 de maio, especialistas em Recursos Humanos reforçam a urgência das empresas adotarem práticas afirmativas para combater o preconceito e criar ambientes profissionais onde todos os colaboradores possam se sentir respeitados e seguros. A data, reconhecida mundialmente, marca a exclusão da homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ocorrida em 1990, e desde então se tornou um símbolo da luta por direitos e respeito à comunidade LGBTQIAPN+.
De acordo com o estudo “Perfil Social, Racial e de Gênero das 1.100 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas 2023-2024”, realizado pelo Instituto Ethos em parceria com o IPEC, apenas 3,2% das grandes empresas brasileiras contam com ações afirmativas voltadas à inclusão de pessoas LGBTI+ em cargos de direção, enquanto 45,3% sequer estabelecem metas para promover a diversidade em posições de liderança.
Os dados foram divulgados em 18 de setembro de 2024, durante a Conferência Ethos 360º, realizada em São Paulo. Isso revela como o preconceito ainda está presente nas relações corporativas, mesmo que de forma velada. O dado é um alerta para líderes e equipes de Recursos Humanos sobre a necessidade de criar espaços mais acolhedores.
Além disso, um levantamento do PoderData, realizado entre os dias 27 e 29 de março de 2024, revelou que 74% dos brasileiros acreditam que existe preconceito contra homossexuais no país, o maior índice registrado desde o início da série histórica, em 2021. A percepção generalizada da homofobia na sociedade brasileira reforça a importância de ambientes corporativos se tornarem espaços de resistência e transformação cultural.
“As empresas que investem em diversidade e inclusão constroem mais do que um diferencial competitivo, elas contribuem diretamente para o bem-estar de seus colaboradores. Não podemos esquecer que as empresas são organismos sociais que devem estar comprometidas com o avanço dessas agendas através de seus produtos e práticas. A diversidade existe, é real, não pode ser ignorada e está inerente aos colaboradores e clientes de toda e qualquer empresa. Impulsionar a inclusão é estar mais preparado para fazer negócios com a sociedade. Então, reconhecer a identidade, as características intrínsecas de todo e qualquer grupo, e no ambiente de trabalho não é diferente, é acreditar na equipe, na sua empresa e, sobretudo, nos propósitos”, afirma Hudson Cunha, especialista em Recursos Humanos, Diversidade e em Aconselhamento de Carreira.
Treinamentos de sensibilização
A adoção de medidas concretas, como treinamentos de sensibilização sobre diversidade, programas de mentoria para grupos minorizados, revisão de políticas internas e canais seguros de denúncia, são passos fundamentais para promover mudanças estruturais. Essas iniciativas não apenas previnem a discriminação, como também criam um senso de pertencimento entre os colaboradores, pois poder expressar o seu “eu” no ambiente de trabalho traz resultados positivos tanto para os funcionários quanto para as empresas.
Uma pesquisa conduzida pelos pesquisadores Kathryn Ostermeier, Danielle Cooper e Miguel Caldas, publicada em 2022, introduziu o conceito de “clima de autenticidade psicológica”, que se refere à percepção de que a organização valoriza e incentiva a expressão da verdadeira identidade dos colaboradores. O estudo mostrou que, quando os profissionais se sentem seguros para serem autênticos, aumentam a satisfação e o engajamento com a empresa, reduzem-se os riscos de burnout e diminui a intenção de deixar o emprego — fortalecendo, assim, o clima organizacional e a performance da companhia.
“Trabalho é diferente de emprego. Em um trabalho de verdade, as identidades são reconhecidas. As empresas precisam entender que, para ser trabalho de verdade, políticas de equidade são fundamentais para o reconhecimento da pluralidade que temos na sociedade”, finaliza Hudson.